A tia Maria (nome fictício) foi uma senhora que trabalhou
comigo por muitos anos em Porto Alegre.
Pequena, acanhada, sentimental, honesta e batalhadora, tinha algo em
torno dos seus setenta anos quando me contou essa história de sua vida:
Maria nasceu e cresceu numa localidade rural no interior do Rio Grande do Sul. Casou muito jovem com um homem violento. Certo dia ela
o observou afiar por horas um enorme facão em uma pedra. Seu olhar frio e
ameaçador a fixava. Ao anoitecer, ele carrega uma carroça com o facão e uma pá.
– Sobe, mulher. – ele ordena.
Ambos cortam estradas, atravessando a noite até apear em um
matagal.
– Essa noite eu vou te matar e tu vai cavar tua própria
cova!
Sob a ameaça do facão, Maria cava, rezando silenciosamente
para Jesus e a Virgem por uma salvação. A noite se arrasta e o buraco aumenta.
– Acho que agora já tá bem fundo. Sobe na carroça e vamo
embora pra casa. – inesperadamente ele completa.
Maria escapa com vida e, no amanhecer do dia, foge pra nunca
mais voltar.
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